domingo, 8 de setembro de 2013

PRIVATIZAÇÃO À MODA COMPANHEIRA...ops...não...privatização é coisa de Tucano...o termo correto, no Brasil Maravilha é CONCESSÃO À INICIATIVA PRIVADA...então tá...

Com a decisão de duplicar com recursos públicos parte das rodovias cujas operações e obras de manutenção e melhoria serão transferidas para empresas privadas em leilões de concessão que começam daqui a duas semanas, o governo Dilma mostra, mais uma vez, que ainda não conseguiu definir um modelo adequado para a participação do setor privado na infraestrutura de transportes. Mais de um ano depois de anunciado pela presidente Dilma Rousseff, o Programa de Investimentos em Logística, que previa a transferência de 7,5 mil quilômetros de rodovias federais (número revisto para 7 mil km) e de 10 mil km de ferrovias para o setor privado, ainda não saiu do papel.
Se o cronograma inicial tivesse sido cumprido, os nove lotes rodoviários que compõem o programa já teriam sido leiloados. O primeiro leilão de rodovias chegou a ser marcado para o início do ano, mas as condições definidas pelo governo não atraíram investidores privados. Diante do risco real de que não haveria interessados, o empreendimento foi cancelado. Só no próximo dia 18 será realizado o primeiro leilão, para a concessão da BR-050, que liga os Estados de Goiás e Minas Gerais, e da BR-262, entre o Espírito Santo e Minas Gerais. O segundo leilão, da BR-101, na Bahia, está programado para 23 de outubro. Mas as regras continuam sendo alteradas, porque o governo não tem conseguido compatibilizar seus próprios interesses com os dos investidores e dos usuários.
Como noticiou o Estado (1/9), depois de constatar que os investimentos exigidos dos consórcios vencedores de três dos nove lotes a serem leiloados exigiriam pedágios bem mais altos do que o máximo que havia sido definido, o governo decidiu duplicar esses trechos com dinheiro do Tesouro Nacional. Serão duplicados pelo governo 221 km da BR-101 (BA), 180,5 km da BR- 262 (ES) e 281,1 km da BR-163 (MT).
O governo do PT demorou vários anos para, afinal, se dar conta de que os investimentos em infraestrutura de transporte, necessários para evitar crises e assegurar o crescimento do país, ultrapassam a capacidade do setor público. Admitiu, com relutância, a entrada do capital privado no setor, mas vem tentando impor aos investidores condições que não asseguram a remuneração do investimento no prazo concedido. Para evitar o fracasso dos leilões, vem modificando as regras com frequência ─ e nem sempre tem tido êxito, pois as mudanças geram insegurança e incerteza entre os investidores. O resultado é o atraso na execução de seu programa de logística.
O primeiro leilão tinha sido marcado para 30 de janeiro, mas, por causa da falta de interessados, o governo o suspendeu. Em fevereiro, foram anunciadas regras mais favoráveis para os investidores, como a possibilidade de obtenção de financiamentos oficiais a juros mais baixos, a revisão do aumento do tráfego nas rodovias a serem leiloadas e mudanças não muito claras na taxa de retorno do investimento.
Esperava-se que o leilão fosse, afinal, realizado em maio, mas as mudanças anunciadas em fevereiro não foram suficientes para atrair investidores. Só então, o governo anunciou de maneira clara que a taxa interna de retorno do investimento para os leilões de rodovias passaria de 5,5% para 7,2% – como está definido nos editais para os dois leilões que já têm data definida.
Mas as pressões para mudanças nas regras continuam fortes. Ironicamente, no momento, elas estão concentradas num ponto que o governo do PT considerava básico em seu programa de concessões, a chamada modicidade tarifária, isto é, a cobrança de tarifas baixas pelos serviços prestados. No caso das concessões rodoviárias, o governo federal insinuava que seu programa era muito melhor do que o do governo do Estado de São Paulo, ao qual acusava de impor pedágios caros aos usuários. Para evitar o aumento nos pedágios das rodovias federais a serem concedidas, o governo usará dinheiro público para aliviar os ônus do investidor privado, mas, ainda assim, em alguns postos de pedágio, os usuários desembolsarão até R$ 12. Não é uma tarifa módica.

domingo, 8 de abril de 2012

Uma manhã de domingo, um túmulo vazio, um mundo abismado

Embora possa parecer exagero, e não é, o Cristianismo voltou a ser a religião mais perseguida do mundo nestas duas primeiras décadas do século XXI. Prova disso é a crescente onda de cristofobia que tomou conta dos países ocidentais, seja através dos crescentes ataques do chamado Ateísmo Militante (se bem que ateísmo não se sustenta filosoficamente, o correto é agnosticismo, mas insistem com isso, vai entender...) com posts na internet que carecem de uma fundamentação mais sólida e se atém a mera irreverência, que chega a ser risível, dada a sua inconsistência. Ainda podemos listar o sindicalismo homoafetivo, na última Parada do Orgulho Gay, em São Paulo, expuseram santos católicos em situações homoeróticas, com a proposição de estampá-los em pacotes de preservativos com a inscrição “Nem santo te protege”. Isso sem falar na situação que se observa na África e na Ásia, onde casos como de Asia Bibi, mulher cristã condenada à morte por utilizar os mesmos jarros de água que uma muçulmana e do Pastor Youssef, no Irã, que espera sua execução por enforcamento por se recursar a negar sua fé cristã e retomar a prática islâmica.

Por que resolvi listar os casos acima? Por que hoje (08/04/12) é Domingo de Páscoa, a data mais importante do calendário cristão, mais importante que o próprio Natal. O centro da fé cristã está no relato simples e intenso da ressurreição de Jesus Cristo. Segundo o apóstolo S. Paulo, “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15.14). Portanto, ou a ressurreição é um fato, ou é a melhor e mais fantástica história de todos os tempos, que enganou bilhões e bilhões de pessoas ao longo de dois mil anos.

J. Stott (Inglaterra – 1921-2011), em sua obra, já um clássico, Cristianismo Básico (1964), propõe quatro pontos (não, ele não era presbiteriano) para demonstrar o fato histórico da ressurreição:

1. O túmulo estava vazio: várias teorias foram construídas para explicar esse fato como algo que desmontaria a tese da ressurreição. A primeira trata de que Jesus teria, na realidade, desmaiado na cruz, numa espécie de catalepsia[1]. Tal afirmação não se sustenta numa análise mais atenta dos textos dos tão contestados Evangelhos. O sofrimento dos açoites, associado ao desgaste da marcha ao Calvário com uma trave de madeira maciça, pesando em torno de 30 quilos, a violência dos pregos (12 centímetros) traspassando as mãos e os pés, tempo dependurado na cruz, a lança que perfurou seu lado para confirmar sua morte...Não, alguém que desmaiou, com todo esse sofrimento, não poderia simplesmente acordar numa cripta escura, fria e selada com uma pesada pedra e mover essa pedra, dado seu esgotamento físico, lembremo-nos que o fato da saída do túmulo ocorreu três dias após todo o sofrimento listado e que Jesus passou esse tempo todo no túmulo sem comer, nem beber. Outra tese diz que as mulheres (Maria Madalena, Maria, Joana e demais) teriam ido ao túmulo errado. Como era alta madrugada e estavam tomadas de profundo pesar pela morte de seu Mestre, se confundiram. Isso é mais um delírio desesperado, conhecendo o detalhismo e dedicação femininos, é altamente improvável que mulheres tão dedicadas e minuciosas errassem de local, uma vez que elas estavam indo ao túmulo para terminar o processo de preparação do corpo de Jesus para o sepultamento definitivo. Os relatos tratam que mesmo após o amanhecer elas retornaram ao túmulo com os discípulos, quer dizer que elas se confundiram de novo? Acho que não. Outra conjectura a respeito do túmulo vazio é que ladrões roubaram o corpo. Pergunto: qual a motivação para ladrões comuns enganarem a guarda romana, moverem a pedra, tirarem o corpo e deixarem os lençóis que envolviam o corpo de maneira intacta, como se tivessem murchado? Não, tal tese é por demais inverossímil. A quarta teoria recorrente sustenta que os próprios seguidores de Jesus (discípulos) roubaram o corpo para sustentar a ideia da ressurreição. Uma leitura mais atenta dos Evangelhos nos mostra que esse era o temor das autoridades e que estas subornaram os guardas para afirmarem que o que ocorreu fora isso mesmo (Mateus 28.11-15). O que vemos nos Atos dos Apóstolos são discípulos intrépidos e audazes, proclamando e sustentando que a ressurreição era um fato, utilizando o seguinte refrão “Vocês O mataram, porém Deus O ressuscitou, e nós somos testemunhas disso!” Pessoas morrem por ideais, por verdades, nunca por mentiras e fábulas. Mártires e hipócritas não são feitos do mesmo material[2]. Por último, levanta-se a hipótese que o corpo teria sido roubado pelas próprias autoridades judaicas e romanas a fim de evitar que o mesmo fosse tomado pelos discípulos com o intuito de suscitar uma rebelião tendo como base a suposta ressurreição. Uma pergunta desmonta essa tese, se as autoridades ficaram com o corpo, por que quando se começou a divulgar o fato da ressurreição e as conversões narradas nos Atos do Apóstolos passaram a ocorrer, as autoridades não mostraram o corpo? Simples, por que não o tinham, Ele havia, DE FATO, ressuscitado.

2. Os lençóis de sepultamento estavam intactos: Todas as narrativas afirmam que o corpo de Jesus não se achava mais no lugar onde havia sido posto e que os lençóis estavam intactos, como se tivessem murchado, como se o corpo tivesse “evaporado”. O Evangelho de São João nos narra como José de Arimatéia e Nicodemos solicitaram autorização a Pilatos para removerem o corpo de Jesus da cruz e o preparam para o sepultamento, enfaixando-o com lençóis e especiarias (100 libras, aproximadamente 45 quilos de especiarias). Três dias depois, os discípulos constataram maravilhados, ele não estava mais lá. Os lençóis sim, Ele não.

3. Ele foi visto: Ao ler os relatos dos evangelistas e os Atos dos Apóstolos, encontramos, além daqueles momentos com os discípulos, dez relatos sobre pessoas que se encontraram com o Jesus ressurreto. O interessante é que esses relatos não se preocupam em dar justificativas científicas (mesmo por que não existiam os pressupostos que hoje temos) ou enfeitar o momento com pirotecnias e afins. Simplesmente relatam que o Cristo ressurreto se mostra em meio ao seu povo, sempre com um imperativo, “Não temas”. Se houvesse preocupação em provar a ressurreição, é certo que os evangelistas e demais narradores se preocupariam em descrever maneira mais eloquente tal fato. E por que não o fizeram? Simples, por que era um fato, sem discussão, aconteceu, o Senhor foi visto. E mais, a primeira vez em que Ele se mostra ressurreto é para uma mulher, que na cultura da época não tinha credibilidade. Ou seja, o fato aconteceu, Ele vive. Nenhum tipo de alucinação teria satisfeito a eles (discípulos e demais testemunhas); sua fé estava fundamentada nos fatos firmes e verificáveis de sua experiência pessoal.[3]

4. Os discípulos foram transformados: Ao ler os últimos capítulos dos Evangelhos encontramos discípulos amedrontados, pusilânimes, incapazes de reagir, quanto mais de se tornarem testemunhas em Jerusalém, Samaria e até os confins da terra. No entanto, algo aconteceu, folheando duas páginas além do capítulo 21 do Evangelho de São João, encontramos Pedro e os discípulos, de maneira intrépida, proclamando o Reino de Deus e a ressurreição de Cristo, três mil se convertem num único dia! . O mesmo Pedro, covarde, que se retirara para chorar amargamente a negação de seu Mestre, agora fala com ousadia e afirma, com já citei acima, “Vocês O mataram, porém Deus O ressuscitou, e nós somos testemunhas disso!”. O que teria transformado o covarde pescador galileu num pregador das multidões e cabeça da igreja primitiva?

Ou a ressurreição é um fato, ou é a maior mentira contada em dois mil, não há meio termo, esta breve análise serve para olhar para este simples domingo de feriado prolongado, contemplar um túmulo vazio e abismar-se com a ação divina na História Humana. Ele vive, disso não tenho dúvidas, embora meu coração cético insista em me pregar peças. Termino citando, mais uma vez, J. Stott: “Foi a ressurreição que transformou o temor de Pedro em coragem e a dúvida de Tiago em fé. Foi a ressurreição que mudou o sábado em Domingo... Foi a ressurreição que transformou Saulo, o fariseu, em Paulo, o apóstolo e transformou sua perseguição em pregação"[4]



[1] Doença rara em que os membros se tornam rígidos, mas não há contrações, embora os músculos se apresentem mais ou menos rijos, e quem passa por ela pode ficar horas nesta situação. A catalepsia patológica ocorre em determinadas doenças nervosas, debilidade mental, histeria, intoxicação e alcoolismo. No passado já existiram casos de pessoas que foram enterradas vivas e na verdade estavam passando pela catalepsia patológica. Muitos especialistas, contudo, afirmam que isso não seria possível nos dias de hoje, pois já existem equipamentos tecnológicos que, quando corretamente utilizados, não falham ao definir os sinais vitais e permitem atestar o óbito com precisão.

[2] Stott, J. Cristianismo Básico, p. 57

[3] Opus cit. p.65

[4] Opus cit. p.68

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Retorno de Schmidt

Há alguns anos assisti a um filme de um de meus atores prediletos, Jack Nicholson, talvez um dos mais completos que conheço nessa breve existência de 40 anos. O filme denomina-se "Confissões de Schmidt". Hoje deparei-me com o seguinte artigo na Folha de São Paulo. Confesso que não tinha pensado no filme sob esse aspecto. Boa leitura.

A síndrome de Schmidt

(Por L. F. Pondé, FOLHA DE SÃO PAULO, 19/03/2012)

Não, não se trata de uma doença nova, caro leitor. Apenas de um filme cujo título é "As Confissões de Schmidt", do diretor Alexander Payne, o mesmo de "Os descendentes", que concorreu ao Oscar neste ano, mas muito melhor do que esse.

Para começar, Schmidt é Jack Nicholson, o que já garante metade do filme. Mas o filme vai muito além desse grande ator.

Síndrome de Schmidt, nome que eu inventei, descreve o quadro de total melancolia em que se encontra o personagem central, um homem de 60 anos, após a aposentadoria e morte repentina da sua mulher. Mas qual é o diagnóstico diferencial com relação a outras formas de melancolia? Vejamos.

O filme abre com um discurso de um colega em sua homenagem, quando Schmidt se aposenta da companhia de seguros em que trabalhou a vida inteira (no caso, companhia de seguros carrega todo o peso de viver para ter uma vida segura).

Logo após a morte da sua mulher, ele descobrirá que ela fora amante do colega que discursou em sua homenagem em sua cerimônia de despedida da "firma". A cena da descoberta é feita com requintes de crueldade, porque Schmidt está imerso nas roupas da mulher morta, buscando sentir seu "doce aroma" e assim matar a saudade que sente dela.

Schmidt tem uma filha que casará com um sujeito horroroso, de uma família brega que se julga especial: você conhece coisa pior do que festa de Natal em família? Sim: uma festa de Natal em família em que os presentes são frutos da criatividade ridícula dessa família, como no caso da família do genro de Schmidt.

Schmidt fazia xixi sentado como menina porque sua mulher o proibia de fazer xixi como menino, a fim de não sujar o banheiro.

Esse é sintoma diferencial da síndrome de Schmidt: esmagar-se (mesmo sua fisiologia) para deixar tudo em seu lugar, sem conflitos, amar a paz e o bom convívio em detrimento de si mesmo. No caso específico, não há "questão de gênero" (já que banheiros estão na moda nesse assunto, vale salientar que aqui não é o caso).

Primeiro porque eu não acredito em questões de gênero, só em questões de sexo. Depois, porque não se trata de falarmos em homens vítimas da opressão feminina (ainda que se trate de alguma "opressão" nesse caso, já que, afinal, sua mulher o obrigava a fazer xixi como menina e o traiu), mas sim de falarmos de alguém que descobre que sua vida foi e é vazia, apesar de ter sido um pai e esposo dedicado, e não um desses canalhas que saem com mulheres fáceis por aí.

A síndrome de Schmidt pode e afeta também mulheres, portanto não é uma questão do sexo masculino. Mas no filme é uma questão masculina (o sexo masculino "suja banheiros") e o é antes de tudo porque, como se sabe, homens trabalham, às vezes até brincam com os filhos, mas são as mulheres que detêm o monopólio da subjetividade e da sensibilidade.

Mulheres "conhecem a si mesmas", homens não. Schmidt é uma caricatura do homem que acreditou que, cumprindo seu papel, estaria a salvo da devastação da falta de sentido da vida e do amor. Apesar das modinhas, as mulheres temem a subjetividade masculina como o diabo teme a cruz.

Homens não sabem falar de si mesmos. E, no fundo, é melhor que continuem assim (pensam as mulheres e os filhos): vivendo como Schmidt, no silêncio da função paterna e marital. Isso muitas vezes é objeto de piadas nas quais homens são comparados a carroças, enquanto mulheres são comparadas a grandes jatos.

Na realidade, a vida comum das famílias supõe que os homens continuem a trabalhar sem crises existenciais; qualquer coisa que se diga ao contrário disso é mais uma mentira da moda.

Isso não significa que não existam exceções, mas essas são apenas exceções. Homens com crises existenciais ficam sozinhos.

No caso de Schmidt, tudo que sua filha quer é seu cheque, e não sua presença. O filme é bom o bastante para mostrar que talvez nessas famílias "normais" não haja mesmo possibilidade de grandes relações entre pais e filhos, muito menos entre pai e filhos.

Talvez esse venha a ser um dos debates do século 21: o que fazer quando os homens começarem a falar?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Esqueçam o que escrevi, ou melhor, o que defendi...Como o PT se esqueceu de suas bandeiras históricas..

Já coloquei aqui, mas não custa lembrar, tive o privilégio de dividir o tablado e meu tempo de Editora Moderna com o Prof. Demétrio Magnoli. Antes do Reinado de Momo, ele deixou mais um artigo no Estadão (16/02/2012). Vale a leitura.

DUPLIPENSAR, por Demétrio Magnoli.

A blogueira Yoani Sánchez, os aeroportos privatizados, os policiais amotinados ─ por três vezes, sucessivamente, o PT exercitou a arte da duplicidade, desfazendo com uma mão o que a outra acabara de fazer. Há mais que oportunismo na dissociação rotinizada entre o princípio da realidade e o imperativo da ideologia. A lacuna abissal entre um e outro sugere que, aos 32 anos, o maior partido do País alcançou um estado de equilíbrio sustentado sobre o rochedo da mentira.

Peça número 1: O governo brasileiro concedeu visto de entrada a Yoani Sánchez, enviando um nítido sinal diplomático, mas Dilma Rousseff se negou a pronunciar em Havana umas poucas palavras cruciais sobre o direito de ir e vir, enquanto seus auxiliares reverenciavam o “direito” da ditadura castrista de controlar os movimentos dos cidadãos cubanos. A voz do PT emanou de fontes complementares, que pautaram as declarações presidenciais na ilha. Circundando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, diversos tratados internacionais e a Constituição brasileira, o assessor de política externa Marco Aurélio Garcia qualificou como um “problema de Yoani” a obtenção da autorização de viagem. Ecoando o pretexto oficial castrista, a ministra Maria do Rosário (dos Direitos Humanos!) declarou que Cuba não viola os direitos humanos, mas é vítima de uma violação histórica, representada pelo embargo norte-americano.

O alinhamento automático do PT à ditadura cubana revela extraordinária incapacidade de atualização doutrinária. A social-democracia europeia definiu sua relação com o princípio da liberdade política por meio de duas experiências históricas decisivas: a ruptura com os bolcheviques russos em 1917 e o confronto com a URSS de Stalin na hora do Pacto Germano-Soviético de 1939. O PT, contudo, não é um partido social-democrata. A sua inspiração tem raízes em outra experiência histórica, instilada no seu interior pelas correntes castristas que formam um dos três componentes originais do partido. Tal experiência é o “anti-imperialismo” da esquerda latino-americana, uma narrativa avessa ao princípio da liberdade política.

Peça número 2: Contrariando o renitente alarido petista de condenação da “privataria tucana”, o governo leiloou três aeroportos para a iniciativa privada, mas, ato contínuo, o PT regurgitou as sentenças ortodoxas que compõem um estribilho estatista reproduzido à exaustão. Uma nota partidária anunciou a continuidade da “disputa ideológica sobre as privatizações”, enquanto o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) se enredava na gramática da hipocrisia para formular distinções arcanas entre “concessões” e “privatizações”.

A explicação corrente sobre essa dissonância radical entre palavras e atos aponta as motivações eleitorais de um partido que descobriu as vantagens utilitárias de demonizar adversários indisponíveis para defender a própria herança. Há, contudo, algo além disso, como insinua uma declaração do presidente petista Rui Falcão, que classificou os “adversários” do PSDB como “privatistas por convicção”. O diagnóstico não faz justiça ao governo FHC, mas oferece pistas valiosas sobre a natureza de seu próprio partido.

O PT confusamente socialista das origens pouco se importava com o destino das empresas estatais, engrenagens do capitalismo nacional tardio erguido por Getúlio Vargas e aperfeiçoado por Ernesto Geisel. O partido só aderiu à ideia substituta do capitalismo de Estado após a queda do Muro de Berlim. No governo, aprendeu toda a lição: a rede de estatais configura um sistema de vasos comunicantes entre a elite política e a elite econômica, servindo ao interesse maior de perpetuação no poder e a uma miríade de interesses políticos e pecuniários menores. Os aeroportos foram privatizados para conjurar o espectro do fracasso da operação Copa do Mundo. Ao largo do território das convicções, sempre podem ser deflagradas novas privatizações: afinal, o partido antiprivatista tem como ícone José Dirceu, uma figura que prospera exercendo a função de intermediário entre o poder público e grandes grupos empresariais privados.

Peça número 3: O governo reprimiu o movimento dos PMs da Bahia e o PT condenou os atos criminosos de suas lideranças, mas não caracterizou a greve de militares como motim, deixando entreaberta a vereda para voltar a surfar na onda de episódios similares em Estados governados pela oposição. Os precedentes são conhecidos. Em 1992, quando o pefelista ACM governava a Bahia, o atual governador petista, Jacques Wagner, solidarizou-se com os PMs grevistas. Nove anos depois, quando a Bahia era governada pelo também pefelista César Borges, foi a vez do deputado Nelson Pelegrino, hoje candidato do PT à prefeitura de Salvador, proclamar seu apoio à greve dos PMs baianos. Durante a greve parcial de PMs paulistas, em 2008, no governo “inimigo” de José Serra, o PT formou uma comissão parlamentar de defesa do movimento.

A clamorosa duplicidade tem sua raiz profunda no papel desempenhado pelos sindicalistas do PT. A partidarização petista do movimento sindical moldou um corporativismo sui generis, que substitui os interesses da base sindical pelos do partido. No sindicalismo tradicional, tudo se deve subordinar às reivindicações de uma categoria. No sindicalismo petista, as reivindicações da base sindical devem funcionar como alavancas do projeto de poder do PT. Hoje, os PMs da Bahia são classificados como criminosos; amanhã, nas circunstâncias certas, PMs amotinados serão declarados trabalhadores comuns em busca de direitos legítimos.

O pensamento duplo não é um acidente no percurso do PT, mas, desde que o partido alcançou os palácios, sua alma política genuína. A tensão entre princípios opostos é real, mas não explosiva. Num país em que a oposição renunciou ao dever de discutir ideias, o partido governista tem assegurado o privilégio de rotinizar a mentira.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cuba é uma grande Guantánamo

Texto da FOLHA, de hoje (14/02/2012), da Profa. de Direito Penal da USP Janaína Conceição Paschoal. Vale a leitura pela coragem de estar na Academia e resistir à patrulha dos esquerdopatas fascistóides que contaminaram a universidade.

No último dia 28, um editorial desta Folha (”Dilma em Cuba”) mostrou que a presidente da República estava perdendo uma grande oportunidade de se manifestar sobre o desrespeito aos direitos fundamentais em Cuba.

No dia 29, Julia Sweig, especialista em Cuba, publicou um texto (”Na ilha, não é o blog de Yoani Sánchez que merece atenção”) ressaltando que os benefícios da visita da presidente seriam mais efetivos do que as críticas feitas por dissidentes ao regime, citando expressamente a blogueira Yoani Sánchez. Ela, na opinião de Sweig, não faz uma oposição leal e nacionalista.

O debate sobre qual haveria de ser a agenda durante a visita a Cuba ficou mais acirrado após manifestação do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, no sentido de que não haveria problemas com direitos humanos na ilha.

A afirmação do ministro foi equivocada. No entanto, ela é totalmente coerente com a história do Partido dos Trabalhadores e com as teorias desposadas pelos intelectuais que lhe dão suporte, muitos dos quais responsáveis pela educação de nossos jovens, no ensino médio e nas universidades.

Vigora entre os educadores e intelectuais brasileiros uma correta e justificável ojeriza às ditaduras de direita. Infelizmente, o mesmo vigor não é encontrado quando se trata de ditaduras de esquerda.

As notícias de perseguições, prisões, greves de fome, fuzilamentos e fugas envolvendo opositores às duras ditaduras esquerdistas são ignoradas. Quando fica impossível deixar de falar a respeito, são comuns alegações de que há exagero da imprensa ou, pior, sugestões de que os dissidentes são egoístas que, em nome do individualismo, ameaçam um regime que deveria servir de exemplo.

São as velhas táticas de questionar a liberdade de imprensa quando as notícias são desfavoráveis e de desmerecer o opositor, em vez de enfrentar as opiniões contrárias com argumentos. Nesse cenário, defende-se a coerência de acolher pessoas condenadas por crimes, desde que estejam alinhadas com o esquerdismo, e expulsar jovens que procuram uma vida diferente.
(…)
Já é hora de pretensos defensores da democracia assumirem que, na verdade, são contrários a algumas ditaduras e que desconhecem o real significado dos direitos humanos, que não podem ser relativizados.

Mas a exigência de tal transparência costuma ser estigmatizada como reacionária. Nas universidades brasileiras, constitui verdadeira heresia ousar dizer que Cuba não é melhor que Guantánamo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NÃO EXISTE DEMOCRACIA SEM POLÍCIA

Lendo e lamentando os fatos na Bahia e no Rio de Janeiro, associado ao fato que conheço vários policiais que honram a sua farda, o texto abaixo, publicado em 13/02/2012, pelo Prof. L. F. Ponde, na Folha de São Paulo, traduz muito do meu sentimento e percepção sobre o assunto, BOA LEITURA.


A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.

Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.

Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.

Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).

A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.

Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.

A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu.

Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.

Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.

Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.

Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.

Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.

Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.

Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.

Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.

Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.

Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

QUEM MATOU MAIS NO SÉCULO XX?

A mulher, o bebê e o intelectual....(L.F.P., na Folha de 30/01/2012)

Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.

Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.

Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.

O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.

Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.

Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.

"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."

Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.

Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.

Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".

De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.

Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.

Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.

Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.