sábado, 13 de outubro de 2007

HOJE É DIA DAS CRIANÇAS

"B-I-C-I-C-L-E-T-A (Bê, I, Cê, I, Cê, Ele, Ê, Tê, A), sou sua amiga bicicleta...sou eu te que te levo pelos parques a correr...", assim cantava Simone numa coletânea de músicas infantis da década de 80, Casa de Brinquedos (http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/linklista.php?nomeplaylist=005139-1<@>Casa_De_Brinquedos&opcao=umcd), se quiser ouvir a lista toda, tem um texto fenomenal na voz de Dionísio Azevedo (quem matou Salomão Ayala? É do tempo do Noadir). Mas falava da Simone e da música "Bicicleta". Hoje me peguei voltando no tempo. Beatriz e Pedro ganharam bicicletas de dia das crianças e lá fomos nós para a aventura do aprendizado. Tombos, ralados, muita risada e incentivo....e nada de desistir, estamos quase lá. Mais alguns hematomas e chegaremos lá, juntos! (Resolvi inverter o slogan para não gerar saudades em alguns...).
Aprendi a andar de bicicleta há 30 anos atrás, como passa o tempo (sei que é lugar comum, mas como sou eu que escrevo, vá lá...). Aprendi com uma caloi vermelha, pequena, depois evolui para uma dobrável verde, quem me ensinou foi meu irmão Júlio (saudades sempre), na época ele tinha 19 anos. Rua Pedro Mota, em Paulínia, já moravámos na altura do número 77. Meu pai não tinha lá muita paciência para me ensinar, bem que tentou, reconheço, mas depois do enésimo tombo, eu e ele desistimos de tentar juntos, aliás, ao longo da vida isso foi se tornando um hábito para ambos, mas escreverei sobre isso numa outra oportunidade. O Júlio me pegou e me disse, "tente comigo, acho que a gente consegue...". Montei na magrela (gíria dos anos 80, embora o fato tenha ocorrido em 1977), a rua tinha um leve declive. Ele cochichou no meu ouvido: "Estou segurando no banco, esqueça que estou aqui e concentre-se em manter o corpo firme e a bicicleta idem...vai!!". Quando cheguei ao fim da rua olhei pra trás e o Júlio não estava mais segurando no banco há um tempão. Estava no alto da rua, sorrindo de orelha a orelha...Desde 1989 o Júlio não segura mais o banco da minha bicicleta, foi ajudar alguns anjos a aprenderem a andar nas suas...

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

De Montes Claros a Belo Horizonte (Vôo 5595)

Estou copiando para este blog um dos textos que tive mais prazer em escrever, foi em 23/08/2006
Experiência única essa de falar aos professores de Ensino Médio das escolas oficiais do Estado de Minas Gerais. Ainda existem paladinos da educação neste país, que bom! Mesmo em condições adversas, faltando material e recursos, eles continuam acreditando que o poder da educação é transformar....e é mesmo, neste mesmo blog já narrei a história do Reginaldo, aluno que me faz valer todos esses anos de magistério.
Antes de começar a minha palestra, andei pelo pátio da E.E. Cel. Filomeno e observei a gurizada do Fundamental, bateu uma saudade doida dos meus pequenos, Pedro e Bia. Ao vê-los, veio à mente a composição de Chico Buarque e Garoto, "Meu Guri"....
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço?
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

Me peguei orando por aqueles meninos que nem conheço e, que, muito provavelmente nunca mais verei.....Quantos deles lograrão terminar o Ensino Médio e ingressar numa universidade? Que país estamos legando a esses meninos? Onde repousa a esperança de mudança do destino desses meninos? As vezes bate um remorso, um sei lá o que de eu poder proporcionar aos meus filhos algo que esses meninos talvez jamais terão.....NÃO ERA PRA SER ASSIM!!! NÃO!!!......A pedidos, transcrevo o texto do Prof. Dr. Leandro Karnal:

"Na nossa cultura há um modelo de professor: Jesus. A maioria absoluta das pessoas no Brasil é cristã, mas a alegoria serve também para os que não são. Tomemos a história de Jesus independente da nossa orientação religiosa. Comparemos: Jesus teve 12 alunos escolhidos por Ele! Eu tenho 30, 60 100, escolhidos por um rigoroso processo de seleção: inscreveu, pagou, entrou. Jesus teve alunos em tempo integral por três anos; eu tenho por duas ou quatro horas semanais, por um período mais curto. Os alunos de Jesus deixaram tudo para segui-lo, o meu não deixa quase nada e não quer acompanhar nem meu pensamento, quanto mais minhas propostas existenciais. Fiel aos novos ditames do MEC, Jesus deu um curso superior em três anos. Para quem acredita, Ele fazia milagres, coisa que nós certamente não fazemos naquele sentido. A aula de Jesus, assim, era reforçada por workshops. A auto-estima e a confiança de Jesus eram enormes: o Cara simplesmente dizia que era filho de Deus, ressuscitava mortos, andava sobre as águas, passava quarenta dias sem comer e não tinha medo de ninguém. Eu não tenho esta convicção. Bem, após 3 anos de curso intenso com todos estes reforços, chegou à prova final. Na agonia do Horto, os três melhores alunos dormiram, quando o mestre estava chorando sangue. O tesoureiro da turma denunciou o professor à Delegacia de Ensino por trinta moedas. O líder da classe, Pedro negou que tivesse tido aula por três vezes diante da supervisora de ensino: "nunca vi este cara antes"... Outros nove fugiram sem dar notícia e não compareceram à prova final: O Calvário. O mais bobinho, São João, foi até lá, mas não fez nada para impedir que os guardas matassem o professor. Se considerarmos João, com boa vontade, o único aprovado, teremos uma aprovação de 8,33%, baixa demais para os padrões das Delegacias de Ensino e alvo de demissão sumária por justa causa. O professor morreu e , para quem acredita, voltou para uma recuperação de férias. Reuniu os reprovados e disse: mais uma chance. Primeira pergunta do líder da turma, Pedro: Senhor é, agora que vais restaurar o reino de Israel? Ou seja, o melhor aluno não aprendeu nada! Esta pergunta mostra o oposto da aula dada. Objetivo não atingido. Novos milagres, mais 40 dias de feedback, apostilas, recuperação, reforço de férias. Final de curso pirotécnico: subiu ao céu entre nuvens e anjos assistentes pedagógicos disseram que o mestre tinha ido para a sala dos professores eterna e não mais voltaria. O curso estava encerrado, todas as lições tinham sido dadas para aquela nata de 11 homens. O que eles fizeram? Foram se esconder numa casa, com medo e sem ter entendido tudo. O mestre mandou um módulo auto-instrucional de reforço, um anabolizante artificial: o Espírito Santo. Só então, com uma força que não era deles mas externa eles, começaram a entender e depois de três anos tiveram aquela famosa reação bovina: HUMMMMM. Finalmente começaram a entender algo. Enfim Jesus teve tantos insucessos apesar de tantas condições boas de trabalho. Hoje eu diria para todos os professores: faça o máximo, mas apenas o máximo, e deixe o resto por conta do resto. A frase parece autista, mas é muito importante. Nós temos um limite: a vontade do aluno, da instituição e da sociedade como um todo. Não transformamos nada sozinhos, mas transformamos. O primeira passo é a vontade. O segundo começa daqui a pouco, naquela sala difícil, com aquela turma sentada no fundo da sala que não quer nada com nada. Vamos lá!". (Prof. Dr. Leandro Karnal - IFCH - UNICAMP)

É isso......