sábado, 16 de julho de 2011

Celeste olímpica ou o outro lado do Rio da Prata

Poucos se recordam que o Uruguai foi território do Brasil até 1828. Em uma sangrenta guerra de independência, chamada de Guerra da Cisplatina, os uruguaios (Orientales, como se referem a si mesmo) lograram a sua emancipação. E emancipação dupla, pois os argentinos estavam de olho no território do outro lado do rio da Prata.

Dito isto, vamos falar de futebol. Hoje assisti a uma das mais memoráveis partidas de "Fútbol" dos útimos tempos. Note que grafei com "F" maiúsculo. Até este momento, esta Copa América tinha sido morninha (tíbia, não o osso). Hoje não, deu gosto de ver. Raça do começo ao fim. Alguns puristas dirão que o Uruguai bateu muito. Bateu sim, era a única forma de se manter contra o superior "toco e me voy" argentino. Aliás, a Argentina jogou como nunca....e perdeu como sempre.

Herói do jogo, MUSLERA, entrou na mesma galeria de Rodolfo Rodrigues e Marzukiewisk. Assistindo ao jogo deu até para ouvir os suspiros sãopaulinos de saudades do Lugano.

O Hino Nacional Uruguaio começa com a seguinte estrofe:

Orientales la Patria o la Tumba!
Libertad o con gloria morir!
Es el voto que el alma pronuncia,
Y que heroicos sabremos cumplir!

Uma tradução possível seria:

Orientais à Pátria ou à sepultura!
Liberdade ou com glória morrer!
Esse é o compromisso que a alma pronuncia,
E que de forma heróica sabemos cumprir!

Quem assistiu ao jogo de hoje entre Argentina e Uruguai pôde ver o quanto esta estrofe foi verdadeira.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Bons alunos?

O que é um bom aluno afinal?

Ainda sobre a provocação do texto anterior. Talvez tenha ficado a impressão que ser um bom aluno está diretamente relacionado a conseguir boas notas nas periódicas e inúteis avaliações mensais e bimestrais. Digo inúteis, pois sou radicalmente contra aplicação de provas por parte do professor que leciona para a referida turma. Antes que as Tias Maricotas de plantão (créditos ao Pr. Pier) tenham um ataque de pedagorréia (Pier again), justifico meu pensamento dizendo que a melhor auditoria que existe é a externa. Em outras palavras, uma avaliação feita por mim, para meus alunos, por mais que eu queira ser isento, ela vem carregada de pressupostos para cada turma. Ou seja, não monto uma prova sem levar em conta se a turma que será avaliada tem condições ou não de fazer aquela prova. Ao passo que uma auditoria externa não leva o ritmo e capacidade média da turma em conta, é avaliação e pronto. Por isso que o vestibular ainda é a menos pior de todas as auditorias educacionais. E, por enquanto, ABAIXO O ENEM!!! Por enquanto, se melhorar e ficar sério, mudo de opinião.

Voltando ao quesito bom aluno. Como disse no início, o bom aluno não é vinculado às boas notas somente. Meus dois piores alunos eram excelentes tiradores de notas, nunca tiraram abaixo de 9,0 em minhas provas (e quem é meu aluno sabe que não são fáceis) e eram péssimos, digo em letras garrafais, PÉSSIMOS, em termos de caráter e agradeci pelo fato de os mesmos se formarem e não mais eu ter que conviver com eles.

O bom aluno é aquele que se dispõe a aprender e a seguir as orientações que passamos como fazer, a partir daí ele consegue se tornar um autodidata. Ele passa a entender que um bom aluno se faz em duas etapas:

1. Ele ASSISTE aula num período (seja manhã, tarde ou noite) – um ato coletivo e passivo na maioria das vezes.

2. Ele ESTUDA no contra-período, ainda no mesmo dia, sem que se passe uma noite de sono. Isto é um ato solitário e ativo. Não acredito em grupos de estudo, acredito, sim, em grupos de trabalho, mas aí é outra história para contar.

Além disso, o bom aluno deve sempre ter em mente as máximas socráticas (não o jogador, por favor...): “Só sei que nada sei...” e “conhece-te a ti mesmo”. Bem como não deve cultivar a falsa humildade, tão recorrente na nossa sociedade de tradição cultural medieval carregada de culpa. Humildade não é aceitar prontamente a crítica dos outros ou ser modesto, a etimologia da palavra humildade vem de húmus, ou seja, dar todas as condições e bases para o desenvolvimento de algo, no caso, uma plantinha. Se essa é a etimologia, por que bom aluno tem reticências em demonstrar para os demais seu progresso e sucesso? Lembrando que ele não fez progresso, nem atingiu o sucesso sozinho. Alguém teve que pegá-lo pela mão, incentivá-lo, admoestá-lo, provocá-lo, incomodá-lo para que saísse da condição de mero ser vivo que usa roupas e emite sons para torna-se um ser humano (“Penso, logo existo”.... e viva Déscartes!!). Pensando nisso, lembro da primeira vez que tive contato com um dos mestres que me inspiraram, o Prof. Dr. Héctor Hernán Bruit Cabrera, da cadeira de História da América, UNICAMP. Foi um dos professores mais exigentes que tive e nele me espelhei em várias formas de atuar como professor. A função dele era nos provocar a ponto de alguns desistirem no meio do semestre, dado o alto grau de exigência acadêmica. No entanto, ele moldou uma geração de historiadores e cientistas sociais do mais alto gabarito, modéstia à parte.

Recentemente falei para uma de minhas alunas de 1º. Ano do Ensino Médio que ela notasse como a mesma tinha evoluído. Na minha primeira avaliação ela havia tirado 1,0 (hum), dentre 8,0 pontos possíveis. Na quarta avaliação do ano, a mesma aluna já havia chegado a 5,7! Isso é aprender, ela seguiu a simples bula de duas etapas que citei no início deste texto.

Para terminar, quero encorajar meus alunos a serem muito mais do eles são agora. Não se deixem moldar pela cultura burra dominante das salas de aula deste país. Infelizmente a cada ano que passa a sala de aula fica mais burra, mas vocês podem e devem lutar contra isso com a maior arma que vocês têm, a inteligência. Inteligência que pode ser desenvolvida, um pouco a cada dia, mas todo o dia. Termino com uma citação de 1940 anos atrás, isso mesmo, quase dois milênios:

Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso.

(Carta de Paulo de Tarso ao seu jovem aluno e discípulo Timóteo).

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Não é uma boa ser bom aluno

Tem que ter escola para todos (?)

Aviso vou provocar, aliás, cada dia mais compreendo ser essa minha vocação, provocador. Se for enveredar para expor-me pela escrita, o farei como já li de Ivan Lessa, da seguinte forma “alguém que escreve deve tratar a tudo e todos a tapas e pontapés...”. Num mundo de politicagem correta e patrulhamento constante, sei que será um perigo e incômodo.

Trabalho e vivo da educação formal desde 1989. Já se vai algum tempo e isto me credencia a fazer alguns juízos de valor, mesmo que você, caro leitor, não concorde, para isso pode usar os comentários abaixo, desde que dentro da ordem e decência, não se esquecendo do uso correto da norma culta da língua, sem a qual eu não tomarei conhecimento do que você escreverá.

Como disse, estou na educação desde 1989. Algo tem me incomodado nas escolas por onde andei. Há uma excessiva preocupação com os alunos que apresentam dificuldades no processo de aprendizagem, entendo e apoio que é necessário, sim, a inclusão de todos no processo educacional. Há também uma preocupação excessiva com alunos problemáticos em termos disciplinares, cujas razões são as mais variadas possíveis e imagináveis. Digo excessiva, pois o que observo continuamente é que essa preocupação tem sido em detrimento dos alunos que apresentam bom rendimento e comportamento. Em suma, a escola brasileira se preparou para o aluno-problema e não sabe o que fazer com o bom aluno. Em outras palavras, ser bom aluno, na maioria das escolas, não é sinônimo de ser bem aceito pelo grupo, onde por vezes reina a mediocridade.

Chama-me a atenção o fato que ter bom rendimento, aprender e se desenvolver academicamente é algo mal visto e pouco encorajado. Quando um aluno se destaca e se desenvolve, o mesmo torna-se alvo dos “populares”. Pior, se grita pedindo socorro, seja aos pais, seja para a escola, torna-se o “dedo-duro” e, na maioria dos casos, ele sai perdendo e muda de escola. Pergunto: quem venceu?

Acompanhei dois casos que me foram marcantes, uma menina que não apenas sofreu o bullying na escola como também via internet e a mãe ao invés de pegar todas as provas documentadas na net, via MSN e Orkut (uma antiga rede social usada tempos atrás), confrontar a escolar exigir uma postura, preferiu tirar a filha e colocá-la em outra instituição. A agressora continua alegre, feliz, contente e “popular” na escola antiga.

Outro caso presenciei com dois rapazes, as diferenças entre eles vieram para dentro da escola e explodiram durante uma aula. Resultado, o lado bom saiu da escola, o lado ruim eu tive que aturar até o final daquele ano letivo. Sou radical nessas horas, bullying tem que ser cortado na carne, depois a gente faz uma plástica para ajeitar a cicatriz deixada.

Ainda, entendo que é difícil admitir para todos (escola, alunos, pais e professores) que não há homogeneidade na educação. Aliás, entendo que a escola não educa, ela instrui, quem educa, em tese, são os pais e aí é outra história. Tem que ter escola para todos, mas temos que entender que nem todas as escolas são para todos. Se você me leu até aqui é por que faz parte daquela minoria de alunos seres humanos leitores, coisa rara hoje em dia. Você tem uma grande vantagem sobre os demais da espécie, USE-A!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Concordes (não o avião..) e discordes

ATENÇÃO CAMARADAS:

O texto abaixo não reflete a minha opinião sobre o assunto. Contudo achei deveras interessante pela coragem (?) do Luiz Felipe Pondé em expor suas idéias numa época de "politicamente corretos" e onde somos patrulhados por mantermos nossas posições, a despeito daqueles que nos querem impor as deles.

Texto de Luiz Felipe Pondé publicado originalmente na Folha de S.Paulo

HUMILDEMENTE CONFESSO que, quando penso a sério em mulher, muitas vezes penso nela como objeto (de prazer). Isso é uma das formas mais profundas de amor que um homem pode sentir por uma mulher.

E, no fundo, elas sentem falta disso. Não só na alma como na pele. Na falta dessa forma de amor, elas ressecam como pêssegos velhos. Mofam como casas desabitadas. Falam sozinhas.

Gente bem resolvida entende pouco dessa milenar arte de amor ao sexo frágil.
Sou, como costumo dizer, uma pessoa pouco confiável. Hoje em dia, devemos cultivar maus hábitos por razões de sanidade mental. Tenho algumas desconfianças que traem meus males do espírito.

Desconfio barbaramente de gente que anda de bicicleta para salvar o mundo (friso, para salvar o mundo).

Recentemente, em Copenhague, confirmei minha suspeita: a moçada da bike pode ser tão grossa quanto qualquer motorista mal-educado. Trinta e sete por cento da população de lá usa as “magrelas”. E nas ciclovias eles são tão estúpidos, estressados e apressados como qualquer motorista “subdesenvolvido”.

Fecham a passagem de carros e ônibus como se, pela simples presença de seus “eus” perfeitos, o mundo devesse parar diante de tanta “pureza verde”.

Aliás, um modo seguro de ver que alguém NÃO conhece a Europa é se essa pessoa assume como verdade o senso comum de que os europeus são bem-educados. Muitos deles, inclusive, não sabem o que é uma coisa tão banal como uma fila.

Outra coisa insuportável é quem toma banho com pouca água para salvar o planeta. Esse tipo de gente é gente porca que arranjou uma desculpa politicamente correta para não tomar banho direito. Provavelmente não gosta de banho mesmo.

Mas, falando sério, desconfio de homens que não pensam em mulheres como objeto. Pior, são uns bobos, porque, entre quatro paredes, elas adoram ser nossos objetos e na realidade sofrem, porque a maioria dos caras hoje virou “mulherzinha” de tão frouxos que são.

Imagino o quão brocha fica uma mulher quando o cara diz para ela: “Respeito você profundamente, por isso não vou…”.

Pergunto filosoficamente: como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como objeto?

A pior forma de solidão a que se pode condenar uma mulher é a solidão de não fazê-la, de vez em quando, de objeto. E esta é uma forma de solidão que se torna cada vez mais comum. E, sinto dizer, provavelmente vai piorar. A não ser que paremos de torturar nossos jovens com papinhos politicamente corretos sobre “igualdade entre os sexos”.

Igualdade perante a lei (e olhe lá…). No resto, não há igualdade nenhuma.
A feminista americana Camille Paglia, recentemente, em passagem pelo Brasil, disse que muitas das agruras das mulheres heterossexuais se devem ao fato de elas procurarem “seres iguais a elas” nos homens. Que pensem como elas, sintam como elas, falem como elas.

Entre o desejo “correto” de ter um “eunuco bem-comportado” e um homem que diga “não” à tortura da “igualdade entre os sexos”, ficam sozinhas com homens que são “mulherzinhas”.

O que é um homem “mulherzinha”? É um homem que tem medo de que as mulheres achem-no machista, quando, na verdade, todo homem (normal) gosta de pensar em mulher como objeto.

Um mundo de “mulherzinhas” acaba jogando muitas mulheres no colo (vazio) de outras mulheres por pura falta de opção. E aí começa esse papinho de que é “superlegal ser lésbica”. Afora as verdadeiras, muita gente está nessa por simples desespero afetivo.

Nada contra, cada um é cada um. Só sinto que muitos homens “desistam” delas porque a velha “histeria” feminina da qual falava Freud (grosso modo, a insatisfação eterna da mulher) virou algo do qual não se pode falar, senão você é machista.

Muito desse papinho “progressista” é conversa fiada para esconder fracassos afetivos, a mais velha experiência humana, mas que nos últimos anos virou moda se dizer que a culpa é do capitalismo, da igreja, do patriarcalismo, da família, de Deus, da educação, do diabo a quatro.

E o pior é que quase todo mundo tem medo de dizer a verdade: uma das formas mais profundas de amor à mulher é fazer delas objeto.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tô voltando...

Há alguns bons anos, Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós escreveram este samba que sintetiza a minha tentativa de reativar este blog, vamos ver no que dá.

Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando

Leva o chinelo pra sala de jantar
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abraçar, pode se perfumar
Porque eu tô voltando

Dá uma geral, faz um bom defumador
Enche a casa de flor
Que eu tô voltando
Pega uma praia, aproveita, tá calor
Vai pegando uma cor
Que eu tô voltando

Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar porque eu tô voltando
Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando

Dá folga pra empregada
Manda a criançada pra casa da avó
Que eu to voltando
Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero lá, lá, lá, ia, porque eu to voltando!


Agora, por que resolvi retomar este blog? Ontem fui provocado a fazer isso em função das palavras do Sérgio Pavarini (www.pavablog.com). Então vou tentar, lembrando que este será MEU espaço de anarquia.