segunda-feira, 18 de julho de 2011

Simplesmente CHICO MOTTA

Reproduzo abaixo um texto do Chico Motta. Hoje recebi a notícia de seu falecimento. É incrível como a morte nos violenta, mesmo sabendo da inevitabilidade da mesma. No caso do Chico, já era aguardada, por conta da rápida falência de seus órgãos. Contudo, a morte nos choca, nos violenta, nos indigna. Para quem não sabe, o Chico era o capelão do HC da UNICAMP, tetraplégico, ele se dedicava a percorrer os corredores do HC, em sua cadeira motorizada, espalhando amor, conforto, consolação a quem não tinha mais esperança, hoje o Deus dele o chamou de volta pra casa e vai recebê-lo com alegria, para restaurá-lo. Antes do texto do Chico, reproduzo a letra da música que ele pediu para que cantássemos no funeral dele, se é que a gente vai conseguir

Eu plantei
No jardim da minha vida lindas flores
Veio o sol e queimou, veio o sol e queimou
A suas cores e seus perfumes
Eu tentei
Colocar em meu sorriso uma mensagem
De amor mas ninguém, de amor mas ninguém
Soube entender minha coragem
Mas vou continuar
Não importa o que aconteça
Eu vou plantar o amor, vou plantar o amor
Vou amar, vou mostrar, vou amar vou mostrar
A quem tem ódio no coração
Que existe um Deus de amor.


A DOR DO LUTO

Já me falaram equivocadamente que, pelo que escrevo, gosto de sofrer. Mas não é isso. O que acontece é que a nossa sociedade hoje prega que alguém só vai ser feliz se não passar por sofrimentos. E isso não é verdade:

“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3:17-18)

Veja por exemplo quando alguém morre. Todos à volta das pessoas que sofreram a perda se esforçam para que as mesmas não sofram. Como se isso fosse possível! Um viúvo, ou viúva, tem o direito de, a sós, andar pela casa, que agora parece tão vazia, chorando ao experimentar pela primeira vez a ausência do que se foi. Tocar os objetos do amado que morreu, as roupas, livros, a rotina que não vai se repetir mais, deixar vir à tona lembranças, tudo isso dói, e muito. Mas são momentos preciosos, pois nos ajudam a aceitar melhor a nova condição. Não podemos desconsiderar que os “rituais” do luto são terapêuticos.

Quanto aos que querem levar o consolo para quem está passando por essa aflição, basta lembrar que podemos enxugar as lágrimas sem tentar estancá-las, deixando que elas se esgotem naturalmente, no tempo certo, de acordo com a necessidade de cada um. As lágrimas fazem a higienização da tristeza. Não precisamos (e nem temos capacidade) de ter todas as explicações e antídotos para o sofrimento.

Uma jovem senhora, a qual acompanhei na doença e morte do marido, me disse que iria se mudar de casa assim que ele partisse. Na realidade ela já planejara nem entrar mais naquela residência tão cheia de recordações; ela iria para a casa da mãe e o irmão se encarregaria de arrumar outra casa e faria a mudança. Afirmei-lhe que as recordações, por mais doloridas que sejam, são um tesouro de inestimável valor que precisam ser preservados. Uma pessoa “não morre” quando o corpo morre, ela pode continuar viva em nossas mentes e corações. Aquela jovem concordou comigo, mora até hoje onde morou com o marido, sente saudades, é feliz e estruturada.

PARA REFLETIR:

“Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus.” (Ezequiel 18:32)

O MELHOR AINDA ESTÁ POR VIR

MELHORES MOMENTOS - A história do Reginaldo

Há alguns anos escrevi essa história em outro espaço. Já a reproduzi uma vez aqui, mas eu acho essa história tão inspiradora que vou repeti-la. Semana passada coloquei dois textos sobre educação, comecei a semana falando disso no Facebook, para apimentar ainda mais o molho segue a História do Reginaldo.

A MELHOR PROFISSÃO DO MUNDO

Ser professor é a melhor profissão do mundo. Ponto, parágrafo!

Dias atrás escrevi que a juventude de hoje carece de sonhos, desafios e limites. Tive reações adversas, mas, para aqueles que me argüiram e afirmaram que exagerei, deixem-me relatar um fato ocorrido há algum tempo atrás e que me inspira até hoje.

Temos que voltar a 1995, naquele ano me envolvi em um projeto de implantação de uma grife educacional em Campinas, que alavancou a minha carreira e é diretamente responsável pela minha projeção no mercado dos cursinhos pré-vestibulares. Mas sobre isso escreverei posteriormente para exorcizar os fantasmas de meu passado.

Naquele ano tornei-me coordenador de um cursinho pré-vestibular, além de lecionar no mesmo local, o que me fez conviver diariamente naquela instituição, dividi a coordenação com um grande amigo (Lorenço), eu ficava no turno tarde/noite. Por conta disso, nos horários de saída da turma da tarde e entrada da turma da noite eu estava sempre presente e acabei conhecendo mais pessoalmente alguns alunos e suas histórias. Apesar do desgaste maior, sempre tive uma maior predileção pelas turmas noturnas, costumam dar mais valor ao nosso trabalho pois, geralmente, são os próprios alunos que custeiam seus estudos.

Dentre os vários que conheci, Reginaldo (turma da noite) foi o mais marcante. Certa tarde, por volta das 17h45, noto que no saguão de recepção do curso, lá estava Reginaldo folheando o jornal do dia. Puxei papo:

- Meio cedo pra você estar aqui, camarada, não dá tempo de ir até em casa e voltar pra aula das 19h15? Indaguei.

- Xi, professor, se eu fizer isso, perco a hora, moro longe, por isso prefiro vir pra cá depois do trabalho, leio o jornal e vou estudar um pouco até o ínicio da aula. Assim ele me respondeu.

- Pelo menos um lanche você toma? Continuei.

- Somente enquanto duram meus tíquetes durante o mês, depois eu aguento até chegar em casa, sabe como é, passagem de ônibus, alimentação, vai grana e o que eu ganho vai praticamente tudo pra pagar o cursinho....

- Vai prestar o que?

- Engenharia elétrica, noturno, na Unicamp, bem concorrido, né?

- De fato, mas se você continuar assim, vai passar Reginaldo, boa sorte...

Encerrei a conversa condoído com o relato, esse menino saía de casa todos os dias por volta das 6h00, trabalhava o dia todo, vinha pro cursinho, às vezes sem jantar, sem um banho revigorante, assistia a todas as aulas, não faltava aos simulados que eram aplicados nos domingos pela manhã e as suas chances eram mínimas. Disse pra ele que daquele dia em diante ele ficava proibido de assistir aula sem, pelo menos, lanchar. Pedi pro pessoal da cozinha, que preparava o lanche dos professores para separar um lanche a mais e dar pro Reginaldo, que, em princípio, não aceitou,mas diante da minha insistência (que não foi tanta assim...) acabou cedendo.

Passado esse fato, houve uma noite que tive que ficar até o fechamento do curso, nesse tempo as aulas iam até 23h20. Vai hoje colocar aulas depois das 22h30.....não fica ninguém. Assim que todos se foram, saí da escola, me despedi do vigia que passava a noite no prédio e dirigi-me ao estacionamento, era uma fria noite de maio em Campinas e o outono estava mais para inverno naquela ocasião. Ao sair do curso me deparo com Reginaldo todo encolhido debaixo da marquise do prédio. Fiquei sabendo que todos os dias ele esperava seu pai ali, que passava para buscá-lo entre 0h30 e 1h00....O pai de Reginaldo era motorista de ônibus fretado, que transportava alunos para uma cidade próxima, após deixar todos, o pai voltava pra pegar o filho e voltarem juntos pra casa. Chegando em casa, ele ainda estudava até as 3h00...

Fiquei sabendo também que aquele seria seu primeiro e último ano de cursinho, pois o seu salário ajudava nas despesas domésticas e já estava fazendo falta, passar na Unicamp era a única possibilidade de continuar seus estudos...Eu e meus companheiros mais chegados de profissão passamos a sonhar junto com ele. Veio o vestibular e a apreensão da 1a. fase, Reginaldo passou....passamos a respirar mais aliviados, mas agora vinha a agonia da 2a. fase, quatro dias de provas em janeiro, pra depois ficar um mês apreensivo, esperando a lista de aprovados.

O fato é, Reginaldo foi aprovado, quando recebemos a lista (nessa época ainda não se divulgava pela internet...absurdo, não?) e pudemos ver seu nome nela, foi uma alegria sem tamanho, risos, choro, caras pintadas, cabelos raspados... e depois disso perdi o contato com o Reginaldo...trombei com ele no mês passado, na Unicamp. Aliás, não é mais Reginaldo, é DOUTOR Reginaldo. Ele concluiu sua graduação em 2001, entre 2002 e 2006 ele pós-graduou-se e agora está partindo para a Universidade de Albany (EUA), onde fará seu pós-doutoramento......Como diz o Prof. Dr. Leandro Karnal: "Não transformamos nada sozinhos, mas transformamos.."

Em tempo, o pai de Reginaldo não precisa mais dirigir ônibus fretados....Boa sorte camarada, continue nos enchendo de orgulho!!!!

E a velha ordem mudou...

Eu tenho um costume (mau, por sinal) de provocar reflexões e questionamentos, seja nas minhas aulas e nos meus textos. Por que faço isso? Por que não suporto um mundo politicamente correto, moldado por um senso comum burro e "poliano" (se você leu "Poliana" sabe do que falo). Já citei Ivan Lessa aqui, se é para escrever trate tudo a tapas e pontapés.

A partir disso, antes que me acusem de reacionário e outras coisas fora de moda, coisa de gente que parou na História, que acha que o mundo ainda se divide em dois pólos, que a direita é tudo de ruim e a esquerda é tudo de bom, quero deixar uma coisa clara: Não gosto do Dimenstein, Não compactuo com Reinaldo Azevedo, acho Manhathan Connection um saco, embora me divirta com o mau humor ali apresentado. Ah, também não acredito na "imparcialidade da revista semanal" (Max Gonzaga no profético "Classe Média" http://www.youtube.com/watch?v=_Zc7gBKV_Vg). Dito isto, reproduzo aqui um texto de Reinaldo Azevedo, criticando Dimenstein, publicado na isenta e imparcial revista semanal deste país, que segundo De Gaulle, não é um país sério...Será?

TEXTO PRECONCEITUOSO DE GILBERTO DIMENSTEIN CONTRA OS EVANGÉLICOS

(Publicado originalmente em 25/06/2011)

Gilberto Dimenstein, para manter a tradição — a seu modo, é um conservador, com sua mania de jamais surpreender — , resolveu dar mais uma contribuição notável ao equívoco ao escrever hoje na Folha Online sobre a Marcha para Jesus e sobre a parada gay. Segue seu texto em vermelho. Comento em azul.


São Paulo é mais gay ou evangélica? Sem qualquer investimento voluntário na polissemia, é um texto tolo de cabo a rabo; do título à última linha. São Paulo nem é “mais gay” nem é “mais evangélica”. Fizesse tal consideração sentido, a cidade é “mais heterossexual” e “mais católica”, porque são essas as maiorias, embora não-militantes. Ora, se a diversidade é um dos aspectos positivos da cidade, como sustenta o articulista, é irrelevante saber se a cidade é “mais isso” ou “mais aquilo”, até porque não se trata de categorias excludentes. Se número servisse para determinar o “ser” da cidade — e Dimenstein recorre ao verbo “ser” —, IBGE e Datafolha mostram que os cristãos, no Brasil, ultrapassam os 90%.

Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da idéia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no espaço, elas têm diferenças brutais. Nessas poucas linhas, o articulista quer afastar a suspeita de que seja preconceituoso. Está, vamos dizer assim, preparando o bote. Vamos ver.

Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma sociedade com menos direitos e menos diversidade. Está tudo errado! Pra começo de conversa, que história é essa de que “é um direito” dos evangélicos “não respeitar” os direitos dos gays? Isso é uma boçalidade! Nenhum evangélico reivindica o “direito” de “desrespeitar direitos” alheios. A frase é marota porque embute uma acusação, como se evangélicos reivindicassem o “direito” de desrespeitar os outros. Agora vamos ver quem quer tirar o direito de quem. O tal PLC 122, por exemplo, pretende retirar dos evangélicos — ou, mais amplamente, dos cristãos — o direito de expressar o que suas respectivas denominações religiosas pensam sobre a prática homossexual. Vale dizer: são os militantes gays (e não todos os gays), no que concerne aos cristãos, que “reivindicam uma sociedade com menos direitos e menos diversidade”. Quer dizer que a era da afirmação das identidades proibiria cristãos, ou evangélicos propriamente, de expressar a sua? Mas Dimenstein ainda não nos ofereceu o seu pior. Vem agora.

Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um do seus focos foi o STF. Milhões de evangélicos se reuniram ontem nas ruas e praças, e não se viu um só incidente. A manifestação me pareceu bastante alegre, porém decorosa. Para Dimenstein, no entanto, a “alegria”, nessa falsa polarização que ele criou entre gays e evangélicos, é monopólio dos primeiros. Os segundos seriam os monopolistas do “ranço um tanto raivoso”. Ele pretende evidenciar o que diz por meio da locução conjuntiva causal “já que”, tropeçando no estilo e no fato. A marcha evangélica, diz, “faz ataques a diversos segmentos da sociedade” — neste ano, “o STF”. O democrata Gilberto Dimenstein acredita que protestar contra uma decisão da Justiça é prova de ranço e intolerância, entenderam? Os verdadeiros democratas sempre se contentam com a ordem legal como ela é. Sendo assim, por que os gays estariam, então, empenhados em mudá-la? No fim das contas, para o articulista, os gays são naturalmente progressistas, e tudo o que fizerem, pois, resulta em avanço; e os evangélicos são naturalmente reacionários, e tudo o que fizerem, pois, resulta em atraso. Que nome isso tem? PRECONCEITO!

Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários. Bem, chego a duvidar que Gilberto Dimenstein estivesse sóbrio quando escreveu essa coluna. Não há?

Na parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições, basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança. Em qualquer país do mundo democrático, questões religiosas e morais se misturam ao debate eleitoral, e isso é parte do processo. Políticos também desfilam nas paradas gays, como todo mundo sabe.

Isso para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertar com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes financeiras. Todos sabem que o PT é o grande incentivador dos movimentos gays. Como é notório, trata-se de um partido acima de qualquer suspeita, jamais envolvido em falcatruas, que pauta a sua atuação pelo mais rigoroso respeito às leis, aos bons costumes e à verdade.

Nada contra –muito pelo contrário– o direito dos evangélicos terem seu direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos. Gilberto Dimenstein precisa estudar o emprego do infinitivo flexionado. A inculta e bela virou uma sepultura destroçada no trecho acima. Mas é pior o que ele diz do que a forma como diz. Que história é essa de “nada contra”? Sim, ele escreve um texto contra o direito de manifestação dos evangélicos. O fato de ele negar que o faça não muda a natureza do seu texto. Ora, vejam como os militantes gays são bonzinhos — querem que todos sejam alegres —, e os evangélicos são maus: pretendem tolher a livre manifestação do outro. SÓ QUE HÁ UMA DIFERENÇA QUE A ESTUPIDEZ DO TEXTO DE DIMENSTEIN NÃO CONSIDERA: SÃO OS MILITANTES GAYS QUE QUEREM MANDAR OS EVANGÉLICOS PARA A CADEIA, NÃO O CONTRÁRIO. São os movimentos gays que querem rasgar o Artigo 5º da Constituição, não os evangélicos.

Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica. Hein??? A conclusão, obviamente, não faz o menor sentido nem decorre da argumentação. Aquele “portanto” dá a entender que o autor demonstrou uma tese. Bem, por que a conclusão de um texto sem sentido faria sentido? Termina tão burro e falacioso como começou