domingo, 8 de abril de 2012

Uma manhã de domingo, um túmulo vazio, um mundo abismado

Embora possa parecer exagero, e não é, o Cristianismo voltou a ser a religião mais perseguida do mundo nestas duas primeiras décadas do século XXI. Prova disso é a crescente onda de cristofobia que tomou conta dos países ocidentais, seja através dos crescentes ataques do chamado Ateísmo Militante (se bem que ateísmo não se sustenta filosoficamente, o correto é agnosticismo, mas insistem com isso, vai entender...) com posts na internet que carecem de uma fundamentação mais sólida e se atém a mera irreverência, que chega a ser risível, dada a sua inconsistência. Ainda podemos listar o sindicalismo homoafetivo, na última Parada do Orgulho Gay, em São Paulo, expuseram santos católicos em situações homoeróticas, com a proposição de estampá-los em pacotes de preservativos com a inscrição “Nem santo te protege”. Isso sem falar na situação que se observa na África e na Ásia, onde casos como de Asia Bibi, mulher cristã condenada à morte por utilizar os mesmos jarros de água que uma muçulmana e do Pastor Youssef, no Irã, que espera sua execução por enforcamento por se recursar a negar sua fé cristã e retomar a prática islâmica.

Por que resolvi listar os casos acima? Por que hoje (08/04/12) é Domingo de Páscoa, a data mais importante do calendário cristão, mais importante que o próprio Natal. O centro da fé cristã está no relato simples e intenso da ressurreição de Jesus Cristo. Segundo o apóstolo S. Paulo, “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15.14). Portanto, ou a ressurreição é um fato, ou é a melhor e mais fantástica história de todos os tempos, que enganou bilhões e bilhões de pessoas ao longo de dois mil anos.

J. Stott (Inglaterra – 1921-2011), em sua obra, já um clássico, Cristianismo Básico (1964), propõe quatro pontos (não, ele não era presbiteriano) para demonstrar o fato histórico da ressurreição:

1. O túmulo estava vazio: várias teorias foram construídas para explicar esse fato como algo que desmontaria a tese da ressurreição. A primeira trata de que Jesus teria, na realidade, desmaiado na cruz, numa espécie de catalepsia[1]. Tal afirmação não se sustenta numa análise mais atenta dos textos dos tão contestados Evangelhos. O sofrimento dos açoites, associado ao desgaste da marcha ao Calvário com uma trave de madeira maciça, pesando em torno de 30 quilos, a violência dos pregos (12 centímetros) traspassando as mãos e os pés, tempo dependurado na cruz, a lança que perfurou seu lado para confirmar sua morte...Não, alguém que desmaiou, com todo esse sofrimento, não poderia simplesmente acordar numa cripta escura, fria e selada com uma pesada pedra e mover essa pedra, dado seu esgotamento físico, lembremo-nos que o fato da saída do túmulo ocorreu três dias após todo o sofrimento listado e que Jesus passou esse tempo todo no túmulo sem comer, nem beber. Outra tese diz que as mulheres (Maria Madalena, Maria, Joana e demais) teriam ido ao túmulo errado. Como era alta madrugada e estavam tomadas de profundo pesar pela morte de seu Mestre, se confundiram. Isso é mais um delírio desesperado, conhecendo o detalhismo e dedicação femininos, é altamente improvável que mulheres tão dedicadas e minuciosas errassem de local, uma vez que elas estavam indo ao túmulo para terminar o processo de preparação do corpo de Jesus para o sepultamento definitivo. Os relatos tratam que mesmo após o amanhecer elas retornaram ao túmulo com os discípulos, quer dizer que elas se confundiram de novo? Acho que não. Outra conjectura a respeito do túmulo vazio é que ladrões roubaram o corpo. Pergunto: qual a motivação para ladrões comuns enganarem a guarda romana, moverem a pedra, tirarem o corpo e deixarem os lençóis que envolviam o corpo de maneira intacta, como se tivessem murchado? Não, tal tese é por demais inverossímil. A quarta teoria recorrente sustenta que os próprios seguidores de Jesus (discípulos) roubaram o corpo para sustentar a ideia da ressurreição. Uma leitura mais atenta dos Evangelhos nos mostra que esse era o temor das autoridades e que estas subornaram os guardas para afirmarem que o que ocorreu fora isso mesmo (Mateus 28.11-15). O que vemos nos Atos dos Apóstolos são discípulos intrépidos e audazes, proclamando e sustentando que a ressurreição era um fato, utilizando o seguinte refrão “Vocês O mataram, porém Deus O ressuscitou, e nós somos testemunhas disso!” Pessoas morrem por ideais, por verdades, nunca por mentiras e fábulas. Mártires e hipócritas não são feitos do mesmo material[2]. Por último, levanta-se a hipótese que o corpo teria sido roubado pelas próprias autoridades judaicas e romanas a fim de evitar que o mesmo fosse tomado pelos discípulos com o intuito de suscitar uma rebelião tendo como base a suposta ressurreição. Uma pergunta desmonta essa tese, se as autoridades ficaram com o corpo, por que quando se começou a divulgar o fato da ressurreição e as conversões narradas nos Atos do Apóstolos passaram a ocorrer, as autoridades não mostraram o corpo? Simples, por que não o tinham, Ele havia, DE FATO, ressuscitado.

2. Os lençóis de sepultamento estavam intactos: Todas as narrativas afirmam que o corpo de Jesus não se achava mais no lugar onde havia sido posto e que os lençóis estavam intactos, como se tivessem murchado, como se o corpo tivesse “evaporado”. O Evangelho de São João nos narra como José de Arimatéia e Nicodemos solicitaram autorização a Pilatos para removerem o corpo de Jesus da cruz e o preparam para o sepultamento, enfaixando-o com lençóis e especiarias (100 libras, aproximadamente 45 quilos de especiarias). Três dias depois, os discípulos constataram maravilhados, ele não estava mais lá. Os lençóis sim, Ele não.

3. Ele foi visto: Ao ler os relatos dos evangelistas e os Atos dos Apóstolos, encontramos, além daqueles momentos com os discípulos, dez relatos sobre pessoas que se encontraram com o Jesus ressurreto. O interessante é que esses relatos não se preocupam em dar justificativas científicas (mesmo por que não existiam os pressupostos que hoje temos) ou enfeitar o momento com pirotecnias e afins. Simplesmente relatam que o Cristo ressurreto se mostra em meio ao seu povo, sempre com um imperativo, “Não temas”. Se houvesse preocupação em provar a ressurreição, é certo que os evangelistas e demais narradores se preocupariam em descrever maneira mais eloquente tal fato. E por que não o fizeram? Simples, por que era um fato, sem discussão, aconteceu, o Senhor foi visto. E mais, a primeira vez em que Ele se mostra ressurreto é para uma mulher, que na cultura da época não tinha credibilidade. Ou seja, o fato aconteceu, Ele vive. Nenhum tipo de alucinação teria satisfeito a eles (discípulos e demais testemunhas); sua fé estava fundamentada nos fatos firmes e verificáveis de sua experiência pessoal.[3]

4. Os discípulos foram transformados: Ao ler os últimos capítulos dos Evangelhos encontramos discípulos amedrontados, pusilânimes, incapazes de reagir, quanto mais de se tornarem testemunhas em Jerusalém, Samaria e até os confins da terra. No entanto, algo aconteceu, folheando duas páginas além do capítulo 21 do Evangelho de São João, encontramos Pedro e os discípulos, de maneira intrépida, proclamando o Reino de Deus e a ressurreição de Cristo, três mil se convertem num único dia! . O mesmo Pedro, covarde, que se retirara para chorar amargamente a negação de seu Mestre, agora fala com ousadia e afirma, com já citei acima, “Vocês O mataram, porém Deus O ressuscitou, e nós somos testemunhas disso!”. O que teria transformado o covarde pescador galileu num pregador das multidões e cabeça da igreja primitiva?

Ou a ressurreição é um fato, ou é a maior mentira contada em dois mil, não há meio termo, esta breve análise serve para olhar para este simples domingo de feriado prolongado, contemplar um túmulo vazio e abismar-se com a ação divina na História Humana. Ele vive, disso não tenho dúvidas, embora meu coração cético insista em me pregar peças. Termino citando, mais uma vez, J. Stott: “Foi a ressurreição que transformou o temor de Pedro em coragem e a dúvida de Tiago em fé. Foi a ressurreição que mudou o sábado em Domingo... Foi a ressurreição que transformou Saulo, o fariseu, em Paulo, o apóstolo e transformou sua perseguição em pregação"[4]



[1] Doença rara em que os membros se tornam rígidos, mas não há contrações, embora os músculos se apresentem mais ou menos rijos, e quem passa por ela pode ficar horas nesta situação. A catalepsia patológica ocorre em determinadas doenças nervosas, debilidade mental, histeria, intoxicação e alcoolismo. No passado já existiram casos de pessoas que foram enterradas vivas e na verdade estavam passando pela catalepsia patológica. Muitos especialistas, contudo, afirmam que isso não seria possível nos dias de hoje, pois já existem equipamentos tecnológicos que, quando corretamente utilizados, não falham ao definir os sinais vitais e permitem atestar o óbito com precisão.

[2] Stott, J. Cristianismo Básico, p. 57

[3] Opus cit. p.65

[4] Opus cit. p.68