quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A ESQUERDOPATIA UNIVERSITÁRIA

Não estava nos planos voltar ao assunto USP. Contudo não posso me furtar a fazer algumas perguntas sobre o que tenho presenciado ali. Ontem, 28/11, o professor Marcelo Barra (Letras), foi agredido por um um aluno (?) que invadiu a sua sala de aula para impedir a realização de uma prova. O prof. Marcelo Barra é daquela maioria silenciosa da USP que não compactua com os esquerdopatas fascistóides que se apoderaram dos DCEs e CAs das universidades públicas desse país. A minha pergunta é muito simples: A PM (que não pediu para entrar no campus, foi solicitada) prender três estudantes usuários de psicotrópicos ilegais (notem que não usei o termo “maconheiros lazarentos”...), aplicar-lhes algumas sanções físicas (notem que não usei o termo “catiripapos”) por conta resistência ao flagrante não pode. Agora, um fascistóide esquerdopata invadir uma sala de aula para intimidar um professor que está aplicando prova pode? Outra pergunta: onde está a Sra. Drta. da FFLCH que prontamente se solidarizou com os estudantes usuários de psicotrópicos ilegais (notem que mais uma vez não usei o termo “maconheiros lazarentos” e nem acrescentei o termo “morféticos”, que dá no mesmo...) e agora se cala diante da agressão a um docente em sua sala de aula e em seu momento de trabalho?

Como quem está na chuva agüenta a brisa e este espaço é democrático (coisa que os esquerdopatas fascistóides não suportam) vale ressaltar alguns pontos no meu post, 3 pontos para ser mais assertivo (por que 3 pontos? Somente alguns entenderão...).
1. Sobre Fascismo: o mesmo é antidemocrático, antiliberal, de partido único, com culto ao líder que se disfarça de representante do partido, prega a educação dirigida e orientada, toda nivelada por baixo e igualada ideologicamente. Estabelece o controle total do indivíduo através do patrulhamento e denuncismo, bem como o controle sobre a iniciativa econômica. É anticomunista (em tempo, sou social-democrata, parlamentarista e municipalista) e não admite, assim como o Totalitarismo de Esquerda (defendido e demonstrado pelos esquerdopatas fascistóides, com os quais convivo, seja na UNICAMP, seja na USP) qualquer manifestação de oposição, por mínima que seja e, quando derrotados democraticamente, apelam para a violência. Portanto, posso ser conservador, pessimista, mas fascista, definitivamente eu não o sou. É necessário informa-se melhor sobre os conceitos antes me acusar disso.
2. Não odeio os usuários de psicotrópicos ilegais (notem, ILEGAIS). Entendo, sim, que o Estado pode gastar melhor o dinheiro público investindo em outras áreas do que reprimindo quem queima mato com o dinheiro do pai, ou com seu próprio dinheiro, vá lá. Minhas expressões são irônicas e sarcásticas, de fato são para chocar, pois se é para escrever e se expor, como me exponho, que seja a tapas e pontapés. Não tenho compromisso em agradar quem me lê, se não gosta, UNFOLLOW é sempre uma boa pedida. Muito da minha posição se dá pelas inúmeras pessoas que pude presenciar se afundando nesses psicotrópicos (legais e ilegais). Alguns retornaram, outros se foram em definitivo. Odeio o sistema que isso engedra, aumentando cada vez o círculo vicioso da violência e descaso social.
3. A questão toda no post reside na indignação gerada em mim (professor) com meu colega de profissão, que faz da sua vocação a sua militância e não de uma ideologia de massa, que tenta impor ao indivíduo um padrão único, com a desculpa de querer criar um “novo homem”. Qualquer sistema que se proponha a isso flerta com o totalitarismo. Esse meu colega foi covardemente cerceado do seu direito de trabalhar por um esquerdopata fascistóide que não suporta o fato de alguém não compactuar com a sua idéia ou do seu grupo (minoritário, diga-se de passagem). Através da intolerância, esse suposto estudante invadiu uma sala de aula, chutando a porta, virando a mesa (literalmente) e intimidando um professor em pleno exercício da sua atividade. Mais uma vez pergunto: onde está a diretoria da FFLCH agora? Lembrando, estou DENTRO da USP e não a 2788 quilômetros de distância. Sobre outros assuntos, se EU julgar necessário, me manifestarei.
É isso.

domingo, 27 de novembro de 2011

Se Deus existe (E Ele existe), que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.

Hoje ouvi muito sobre um fenômeno denominado EVANGELICALIZAÇÃO do Brasil. Sou cristão reformado (em obras constantemente), totalmente falho e com um coração que constantemente tende ao ateísmo, mas Ele não desiste de mim, mesmo quando eu resolvo desistir (e não foram poucas as vezes que o fiz). Contudo, tenho ficado um tanto quando ressabiado com duas coisas que ocorrem dentro do Cristianismo brasileiro (seja ele católico ou protestante - alguns menos informados teimam em chamar de evangélico, eu mesmo uso termo para que o senso comum possa entender):

1. A crescente alienação dos cristãos com o meio que os cerca, criando guetos, com linguagem, gestos e maneiras próprias, que mais assustam do que aproximam aqueles que não são iniciados.

2. Essa alienação gerando uma intolerância semelhante à experimentada na Idade Média, só nos falta a Inquisição.

Nesta semana o NYT trouxe uma reportagem onde colocam um pastor eletrônico (Silas Malafaia) como representante e liderança dos cristãos evangélicos no Brasil. Já adianto, como disse, sou cristão reformado e não sou aquilo que aparece nas madrugadas das TVs e muito menos sou representado por nenhum pastor eletrônico.

Esta nota é por conta de uma reportagem que li numa revista de circulação semanal. Defendo até o direito do sujeito não crer. Mesmo por que a Fé é um presente divino, não da nossa vontade. Leia a reportagem abaixo e você entenderá a minha indignação.

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

por Eliane Brum para Época


O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz.

Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”.

Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada…”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.

- Você é evangélico? – ela perguntou.

- Sou! – ele respondeu, animado.

- De que igreja?

- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.

- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?

- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.

- Legal.

- De que religião você é?

- Eu não tenho religião. Sou ateia.

- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.

- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.

- Deus me livre!

- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.

- (riso nervoso).

- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?

- Por que as boas ações não salvam.

- Não?

- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.

- Mas eu não quero ser salva.

- Deus me livre!

- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.

- Acho que você é espírita.

- Não, já disse a você. Sou ateia.

- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.

- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?

- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto…

Malafaia chama jornalista ateia que criticou evangélicos de 'vagabunda'

26 de novembro de 2011

O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal)

Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:

- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.

- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.

Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.

A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.

Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.

Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.

É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.

Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.

Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.

Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.

Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.

Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.

Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.