sexta-feira, 15 de julho de 2011

Bons alunos?

O que é um bom aluno afinal?

Ainda sobre a provocação do texto anterior. Talvez tenha ficado a impressão que ser um bom aluno está diretamente relacionado a conseguir boas notas nas periódicas e inúteis avaliações mensais e bimestrais. Digo inúteis, pois sou radicalmente contra aplicação de provas por parte do professor que leciona para a referida turma. Antes que as Tias Maricotas de plantão (créditos ao Pr. Pier) tenham um ataque de pedagorréia (Pier again), justifico meu pensamento dizendo que a melhor auditoria que existe é a externa. Em outras palavras, uma avaliação feita por mim, para meus alunos, por mais que eu queira ser isento, ela vem carregada de pressupostos para cada turma. Ou seja, não monto uma prova sem levar em conta se a turma que será avaliada tem condições ou não de fazer aquela prova. Ao passo que uma auditoria externa não leva o ritmo e capacidade média da turma em conta, é avaliação e pronto. Por isso que o vestibular ainda é a menos pior de todas as auditorias educacionais. E, por enquanto, ABAIXO O ENEM!!! Por enquanto, se melhorar e ficar sério, mudo de opinião.

Voltando ao quesito bom aluno. Como disse no início, o bom aluno não é vinculado às boas notas somente. Meus dois piores alunos eram excelentes tiradores de notas, nunca tiraram abaixo de 9,0 em minhas provas (e quem é meu aluno sabe que não são fáceis) e eram péssimos, digo em letras garrafais, PÉSSIMOS, em termos de caráter e agradeci pelo fato de os mesmos se formarem e não mais eu ter que conviver com eles.

O bom aluno é aquele que se dispõe a aprender e a seguir as orientações que passamos como fazer, a partir daí ele consegue se tornar um autodidata. Ele passa a entender que um bom aluno se faz em duas etapas:

1. Ele ASSISTE aula num período (seja manhã, tarde ou noite) – um ato coletivo e passivo na maioria das vezes.

2. Ele ESTUDA no contra-período, ainda no mesmo dia, sem que se passe uma noite de sono. Isto é um ato solitário e ativo. Não acredito em grupos de estudo, acredito, sim, em grupos de trabalho, mas aí é outra história para contar.

Além disso, o bom aluno deve sempre ter em mente as máximas socráticas (não o jogador, por favor...): “Só sei que nada sei...” e “conhece-te a ti mesmo”. Bem como não deve cultivar a falsa humildade, tão recorrente na nossa sociedade de tradição cultural medieval carregada de culpa. Humildade não é aceitar prontamente a crítica dos outros ou ser modesto, a etimologia da palavra humildade vem de húmus, ou seja, dar todas as condições e bases para o desenvolvimento de algo, no caso, uma plantinha. Se essa é a etimologia, por que bom aluno tem reticências em demonstrar para os demais seu progresso e sucesso? Lembrando que ele não fez progresso, nem atingiu o sucesso sozinho. Alguém teve que pegá-lo pela mão, incentivá-lo, admoestá-lo, provocá-lo, incomodá-lo para que saísse da condição de mero ser vivo que usa roupas e emite sons para torna-se um ser humano (“Penso, logo existo”.... e viva Déscartes!!). Pensando nisso, lembro da primeira vez que tive contato com um dos mestres que me inspiraram, o Prof. Dr. Héctor Hernán Bruit Cabrera, da cadeira de História da América, UNICAMP. Foi um dos professores mais exigentes que tive e nele me espelhei em várias formas de atuar como professor. A função dele era nos provocar a ponto de alguns desistirem no meio do semestre, dado o alto grau de exigência acadêmica. No entanto, ele moldou uma geração de historiadores e cientistas sociais do mais alto gabarito, modéstia à parte.

Recentemente falei para uma de minhas alunas de 1º. Ano do Ensino Médio que ela notasse como a mesma tinha evoluído. Na minha primeira avaliação ela havia tirado 1,0 (hum), dentre 8,0 pontos possíveis. Na quarta avaliação do ano, a mesma aluna já havia chegado a 5,7! Isso é aprender, ela seguiu a simples bula de duas etapas que citei no início deste texto.

Para terminar, quero encorajar meus alunos a serem muito mais do eles são agora. Não se deixem moldar pela cultura burra dominante das salas de aula deste país. Infelizmente a cada ano que passa a sala de aula fica mais burra, mas vocês podem e devem lutar contra isso com a maior arma que vocês têm, a inteligência. Inteligência que pode ser desenvolvida, um pouco a cada dia, mas todo o dia. Termino com uma citação de 1940 anos atrás, isso mesmo, quase dois milênios:

Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso.

(Carta de Paulo de Tarso ao seu jovem aluno e discípulo Timóteo).

Um comentário:

Luiza FB disse...

Outro post excelente :) a melhor parte, sem dúvida, foi: "Não se deixem moldar pela cultura burra dominante das salas de aula deste país. Infelizmente a cada ano que passa a sala de aula fica mais burra, mas vocês podem e devem lutar contra isso com a maior arma que vocês têm, a inteligência. Inteligência que pode ser desenvolvida, um pouco a cada dia, mas todo o dia."
Continue postando textos tão bons quanto esse que eu irei ler e comentar quando possível!