segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Ao Mestre Márcio, com carinho...

Por que ELE vive posso crer no amanhã

Por que ELE vive temor não há

Mas eu bem sei, eu sei...

Que a minha vida, está nas mãos do meu Jesus,

Que vivo está...

E quando, enfim, chegar a hora..

Em que a morte, enfrentarei

Sei que então, terei vitória

Verei na glória, o meu Jesus

Que vivo está...

Este era um dos cânticos preferidos do Márcio. Durante a semana, o Márcio era professor, um brilhante e exigente professor. Interessante isso, ele acreditava numa educação formal, rígida e consistente. Não tinha o compromisso de agradar o aluno, ou, o cliente, como definem alguns mantenedores hoje. O compromisso do Márcio era com a educação, com o escrever bem e coerente. Essa exigência era mal interpretada por alguns alunos. Márcio não fazia média e deixava claro o óbvio, a sala de aula tem ficado burra nestes últimos anos. Em nome de uma pseudo-modernidade tem-se deixado achincalhar a escrita com a mais variada gama de absurdos. Era contra isso que o Márcio militava. Aos finais de semana, Márcio deixava de ser professor e se transformava num aluno aplicado da Escola Bíblica Dominical da Igreja do Nazareno Central de Campinas.

Aproveitando isso, no capítulo 11 do Evangelho de São João, Jesus se depara com a morte de um querido amigo, Lázaro. Depois de avisado da doença grave e eminente morte do amigo, ele ainda se demora a chegar, ao ser avisado da morte, ele continua a se demorar a chegar, as irmãs de Lázaro (Marta e Maria) não se conformam com a demora do Mestre. Ele chega à Betânia, cidade de Lázaro, e se depara com as cenas de pranto em função da morte do amigo querido. As irmãs cobram a presença de Jesus, sem muito pressão, mas cobram. O Mestre se achega ao túmulo, se vê face a face com a morte, a morte de um amigo querido, precioso. As Sagradas Escrituras afirmam que a morte não fazia parte do plano A de Deus para o homem. A Bíblia denomina a morte como “o último inimigo a ser destruído”(1 Co 15.26). Interessante como as traduções dessa passagem (Jo 11.33-35) nos dão uma idéia equivocada do que o evangelista João quis nos dizer. No verso 33 desse capítulo lemos que Jesus ao deparar-se com essa cena “agitou-se no espírito e perturbou-se” (NVI). O verbo grego original aqui é enebrimesato, termo usado para referir a “bufar, resfolegar em forma de indignação humana e/ou em referência a cavalos”. Quando Jesus se aproxima do túmulo de seu amigo, ele está com uma fúria irreprimível! Ele vê, nas palavras de Calvino, a “violenta tirania” da morte. A anormalidade, a opressão daquilo que não fazia parte do plano A. A segunda reação de Jesus é de profunda tristeza e compaixão. No verso 35, Jesus chora, chora com as irmãs de Lázaro, se junta à elas.

Márcio era um grande amigo, convivi alguns anos com ele e sou grato a Deus pelo privilégio desses anos. Conheci-o através de uma amiga comum, a Valéria, professora de literatura. Durante dois anos viajamos juntos para trabalhar. Bons papos indo à Piracicaba. Inacreditável como a sua partida, de maneira abrupta, me deixou pasmo. Conversando com a Valéria no dia do funeral, em direção à Rio Pardo, disse-lhe que não conseguia trabalhar a idéia de sua morte, que para mim ele tinha, na verdade, partido para fazer seu doutorado na Europa (seu sonho recorrente). Uma vez por lá, devido à sua competência, fora contratado por uma universidade e não mais voltaria para os trópicos. Essa idéia é melhor. Deixar de viver é algo determinado pela natureza, mas deixar de viver tão cedo e com tantos planos a cumprir, não me conformo. Márcio, você alcançou algo que almejo alcançar, estar na presença do Pai Celestial. Eu ainda estou na ante-sala, você já foi pra sala principal. Vai em paz amigo, que este mundo não pode mais te fazer mal.

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