domingo, 12 de abril de 2009

PARA QUE SERVE A HISTÓRIA?

Para que serve a História?

“Pai, diga-me lá, para que serve a História?” Era assim que um rapazinho meu próximo parente interrogava, há poucos anos, um pai historiador.

(BLOCH, Marc, Introdução à História, Pub. Europa América, p. 12)

Estas duas primeiras linhas iniciam um dos textos mais brilhantes, se não o mais brilhante, sobre o ofício do historiador.  Quando, em 1992, tomei contato pela primeira vez com ele, era eu um rapazola um tanto quanto deslumbrado com o início da vida acadêmica.  O tempo passou, decepcionei-me com o academicismo e demais “ismos” desse meio.  Contudo, o tempo serviu para firmar ainda mais a minha fé na “velha história da cruz”.

O Cristianismo é uma religião histórica (eu sei que não gostamos de usar a palavra religião, mas usemo-na aqui sem prés ou pós-conceitos).  Jesus quando ensinava às multidões e aos discípulos o fazia através do uso da História do Povo de Deus.  Mesmo o próprio Deus Pai, quando fala aos israelitas no deserto do Sinai, no livro do Êxodo, o faz recorrendo à memória histórica coletiva (Ex. 19.3-6).  E assim o é por toda a Bíblia.

O advento da Reforma no século XVI reforçou ainda mais associação Cristianismo-História.  Uma das características do Renascimento Cultural do século XVI, do qual emergiu o processo reformista, se baseou na retomada de valores e pensamentos da Antiguidade Clássica (séc. XX a.C.-V d.C.).  Desta forma, qual era o livro mais acessível para se conhecer as categorias de pensamento e ação de uma sociedade do século I d.C.?  Daí advém um dos pilares reformistas, a tradução e livre acesso e interpretação da Bíblia.

Ainda na virada do século XVI para o XVII, cristãos escoceses não aceitaram a interferência do monarca no governo das comunidades locais, baseando-se na Sagrada Escritura e, conseqüentemente, no modelo apresentado no Novo Testamento de estrutura eclesiástica, esses cristãos da Escócia estruturam um sistema de governo onde o conjunto de membros daquelas comunidades elegia seus líderes (conhece isso de algum lugar?).

Alexander de Tocqueville, em sua obra A Democracia na América, afirma que nos EUA se organizou primeiro a paróquia, posteriormente o município, em seguida a comarca, na seqüência o Estado e por fim a União.  Mas observe onde tudo começou, na comunidade local. De onde os Puritanos do século XVII tiraram essa idéia?  Como eles tinham conhecimento?

Nós, cristãos do século XXI, não podemos nos furtar a ignorar a História, não apenas a História Universal, mas nossa história pessoal na caminhada com Deus, a história da nossa comunidade local.  Conhecê-la nos ajuda a entender melhor as Escrituras e ensiná-las a outros. Fazer marcos de fé, como no Antigo Testamento, nos faz lembrar quanto Deus já fez em nossas vidas e que a nossa história ainda não acabou.  Ela se concluirá naquele grande Dia, descrito em Apocalipse 21.  Quando começará uma nova história, aliás, ela já começou, quando Deus nos alcançou.

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